Na caminhada cristã uma vez mais nos encontramos a celebrar o tempo pascal.
Partilho convosco um pouco do que vivemos aqui em Gilgel Beles durante o
tríduo pascal. Tivémos aqui na Missão jovens oriundos das diferentes
comunidades cristãs e aldeias que fazem parte do território da paróquia. Ao
todo eram uns 150, 27 dos quais eram catecúmenos que receberam o Baptismo e
fizeram a primeira comunhão na Vigília Pascal.
Foram dias vividos com muita intensidade, com muito trabalho e cansaço à
mistura, mas com muita alegria e entusiasmo.
VIDA foi a palavra dominante nestes dias: a Ressurreição de Jesus é Vida
que nos permite de começar, ou de recomeçar uma vez mais a nossa caminhada de
configuração a Jesus de Nazaré que Deua a sua vida na Cruz por todos nós e quis
ficar sempre connosco nos sacramentos
que nos dão energia nova todos os dias.
VIDA foi a palavra que mais repeti nas reflexões dos momentos de oração
comunitária e de reconciliação pessoal. Antes de mais a VIDA é DOM gratuito de
Deus. Porém na cultura Gumuz encontramos
muitos sinais de “não-vida”
e de morte concreta. Nas semanas que anteceram a Páscoa fomos aterrorizados com
a morte de uma rapariga, uma das nossas catecúmenas, enforcada numa árvore.
Tivémos notícia de uma outra, sempre da mesma aldeia, que tentou enforcar-se: esteve dependurada numa árvore umas
quatro horas, mas conseguiram salvá-la.
A primeira pergunta que nos fazemos é: porquê? Ao fazermos esta pergunta
sabemos também que na região Benishangul Gumuz, Mandura (o concelho a que
pertencemos) é o que apresenta a taxa de suicídios mais elevada. Estas duas
raparigas são jovens: 16-17
anos no máximo. Mas voltemos ao porquê. A razão é esta: os pais e os irmãos
obrigaram-na a
casar-se com um rapaz pelo
qual elas não sentiam nenhum interesse, não queriam casar-se. Foram obrigadas a fazê-lo e o resultado é o que sabemos...
Estas duas raparigas são apenas dois exemplos, poderia mencionar tantos que
acontecem muito frequentemente entre nós. O casamento forçado é a causa
principal destes acontecimentos. A geração jovem é vítima de uma sociedade que
resiste muito à mudança de costumes, a um tentativo de “humanizar” um pouco
certas normas sociais que continuam a escravizar. Estas mortes são expressão de
desespero...
Mas há sinais de Vida: posso falar-vos de outro caso de uma rapariga corajosa, uma
cristã que foi dada em matrimónio a um muçulmano que a queria obrigar a
professar a fé islâmica. Ela recusou e fugiu para a aldeia dos seus pais. A sorte
desta raapariga é que tem o paoio da mãe na sua decisão. Se assim não fosse,
poderia ser muito diferente. Do catequita ouvi que ela teria dito que pensou ao
suicídio como solução, mas prevaleceu a convicção da rapariga de que tem muitas
qualidades e o suicídio não resolveria nada, traria ainda mais sofrimento a
todos.
Este é um testemunho de uma jovem
que me diz que VALE A PENA LUTAR SEMPRE PELA VIDA! É a história de Páscoa que
nos ensina que o Evangelho tranforma a vida daquele que se abre à sua força
libertadora.
BOA PÁSCOA!
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