Como missionário Comboniano estou na Etiópia mandado pela Igreja de Portugal, a qual me sinto ligado e acompanho de perto por quanto me é possível.
Eis aqui um texto de D. António Couto, bispo Auxiliar de Braga que penso nos dá um belo estímulo para o nosso testemunho cristao na sociedade:
1. No espaço de dois anos e meio, o Papa Bento XVI fez aos Bispos de Portugal dois interessantíssimos discursos: o primeiro, em Roma, em 10 de Novembro de 2007, durante a Visita ad Limina; o segundo, em Fátima, em 14 de Maio de 2010, durante a Visita Apostólica a Portugal. 2. No discurso de 2007, o Papa trouxe para primeiro plano a construção de uma Igreja de comunhão e participação, em que os seus membros não fiquem perdidos e entretidos nas pregas do tempo e da vaidade a discutir quem é o primeiro, mas se ocupem verdadeiramente nas coisas de Deus e no testemunho de Cristo, começando por apostar numa nova e fecunda iniciação cristã, que não vá deixando pelo caminho cada vez mais crianças e jovens. Mais do que os discursos e as ideias, é o encontro testemunhado com a Pessoa de Cristo que é determinante. Era este o caminho, o método. 3. No discurso de 2010, Bento XVI, serenamente feliz, começou por apresentar o Papa como alguém que vive, não para si mesmo, mas para a presença de Deus no mundo, coram Deo e coram hominibus. Esta atitude faz toda a diferença. Por isso, insistiu que os Pastores não podem ser apenas pessoas que ocupam um cargo, mas têm de sentir-se responsáveis pela abertura da Igreja à acção do Espírito, como a harpa de David exposta ao vento do Espírito, de onde saem sempre as mais belas melodias. Sentinelas atentas, portanto, aos novos movimentos e novas formas eclesiais, que o Espírito vai despertando, e que vão transformando o «inverno da Igreja» em nova primavera. 4. Coram Deo e coram hominibus. Difícil postura, sem equilibrismos, ao mesmo tempo contemplativa e profética. Testemunhal sempre. E Bento XVI voltou a lembrar que os discursos e apelos aos princípios e valores cristãos, ainda que necessários e indispensáveis, não chegam ao mais fundo do coração da pessoa, não tocam a sua liberdade, não mudam a vida. Aquilo que fascina, referiu, é sobretudo o encontro com pessoas crentes que, pela sua fé, atraem para a graça de Cristo, dando testemunho d’Ele. 5. Por isso e para isso, Bento XVI lembrou aos Bispos o caminho pastoral que se propuseram fazer: oferecer a todos os fiéis uma iniciação cristã exigente e atractiva, radicada no Evangelho, e que venha a ter reflexos na vida pública. Por isso e para isso, lembrou ainda o Papa, é necessário um novo vigor missionário de todos os cristãos, chamados a formar um laicado maduro, empenhado na Igreja e solidário no coração do mundo, onde devem ser verdadeiras testemunhas de Jesus Cristo, sobretudo nos meios humanos onde o silêncio da fé é mais amplo e profundo, e referiu a propósito, os meios políticos, intelectuais e dos profissionais da comunicação. 6. Mas também é fundamental o testemunho da alegria, da caridade e da esperança no mundo deste tempo, com tantas e tão acentuadas carências sociais, com tantas pobrezas, onde sobressai a falta do sentido da vida. 7. Enfim, os Bispos de Portugal devem ser mestres e testemunhas, mestres porque testemunhas, exercendo sempre a sua paternidade episcopal, antes de mais com os sacerdotes, mas também com todos os fiéis, não descurando a denúncia profética e o seu papel de sentinelas que velam pelo rebanho e conduzem o rebanho, sem esquecer a atenção de privilégio que devem sempre saber dar à ovelha perdida. Isto porque, a grande referência para o Papa, para os Bispos e para todos os cristãos é Jesus Cristo. Sem Ele, disse em jeito de desabafo o Papa na Homilia da Santa Missa celebrada no Porto, no dia 14 de Maio: quanto tempo perdido, quanto trabalho adiado! 8. Glosando o título deste breve texto, retirado das palavras certeiras de Jesus que dissolvem os pensamentos tortuosos insidiados no coração do fariseu Simão (Lc 7,36-50), os Bispos de Portugal foram desafiados a verem, para além das muitas acções que vão realizando neste país e neste tempo (a mulher do Evangelho acima citado realiza seis!), a sétima, que é a grande acção da Graça de Deus que há-de ser sempre o fio condutor da sua vida de Pastores, de bons Pastores. Portanto, só estando verdadeiramente e sem subterfúgios e sem intervalos coram Deo, se pode estar também verdadeiramente coram hominibus, prestando a esta humanidade sofrida e desalentada um verdadeiro serviço de qualidade. 9. Para lá dos conteúdos dos discursos com que nos brindou, o maior realce tem de ser posto, todavia, também para que os discursos sejam verdadeiros, no facto de Bento XVI ter sido no meio de nós testemunha qualificada da acção da Graça de Deus em acção no nosso mundo. D. António Couto, Bispo Auxiliar de Braga |
in http://www.agencia.ecclesia.pt/cgi-bin/noticia.pl?id=80141
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